Candidatos de direita surgem em vantagem nas pesquisas para o Senado em 2026 2y282h
Disputa é considerada vital por Lula e Bolsonaro 165b5h

Na sexta-feira 30, em Fortaleza, o ex-presidente Jair Bolsonaro, em meio a várias críticas aos processos que enfrenta no Supremo Tribunal Federal, reforçou um apelo cada vez mais frequente. “Tenho certeza que ano que vem vocês vão me dar mais de 50% da Câmara e do Senado. Isso acontecendo, a gente muda o destino do Brasil”, disse em evento do PL. Dois dias depois, em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra-atacou. “Em 2026 precisamos eleger senadores da República. Porque, se esses caras elegerem a maioria dos senadores, vão fazer uma muvuca neste país. Tem que pensar onde a gente pode eleger e pegar os melhores quadros, senão vão avacalhar a Suprema Corte”, afirmou. As declarações não deixam dúvidas de que a batalha pelo Congresso, em especial o Senado, será uma das mais decisivas entre lulismo e bolsonarismo na eleição do ano que vem. E, a julgar pelas primeiras pesquisas, quem sai na frente é a direita.

Sondagens eleitorais do Paraná Pesquisas apontam que boa parte dos favoritos gravita na órbita bolsonarista. Nos maiores colégios eleitorais, as primeiras posições são ocupadas por políticos como o senador Flávio Bolsonaro (PL) e o governador Cláudio Castro (PL), no Rio de Janeiro; o deputado Eduardo Bolsonaro (PL) e o secretário da Segurança Pública e deputado licenciado Guilherme Derrite (PP), em São Paulo; a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e o governador Ibaneis Rocha (MDB), no Distrito Federal; e os governadores Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Ratinho Junior (PSD), do Paraná. “A ideia é buscar a possibilidade real de São Paulo eleger dois senadores conservadores”, disse Derrite, ao trocar o PL pelo PP em acordo para que os dois partidos pudessem ter candidato — ele e Eduardo Bolsonaro.
A eleição para o Senado no ano que vem é estratégica por vários motivos. Primeiro, porque dois terços da Casa serão renovados (54 vagas de 81). Segundo, porque é real a chance de a direita formar maioria se levar em consideração o desempenho em 2022, quando elegeu os ex-ministros Sergio Moro, Damares Alves, Rogério Marinho, Marcos Pontes e Jorge Seif, e o ex-vice Hamilton Mourão. A estimativa é que a direita próxima a Bolsonaro tenha hoje de quinze a vinte senadores. “Se mantiver o acordo entre direita e centro para 2026, Bolsonaro consegue 44 ou 45 cadeiras”, calcula um confiante interlocutor do ex-presidente. Se a projeção do bolsonarismo estiver correta, a direita poderia então chegar a sessenta dos 81 assentos no Senado, o que daria maioria tranquila por quatro anos.
Com esses senadores, poderiam ganhar tração alguns projetos caros ao bolsonarismo. Um deles é o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal. Embora seja prerrogativa exclusiva do Senado, nunca um processo foi sequer iniciado pela Casa na história do país. É também ali que se pode discutir propostas para atingir os ministros do STF, como a fixação de prazos para mandatos e a volta da discussão da “PEC da Bengala”, que está parada nos escaninhos do Congresso, para rebaixar a idade de aposentadoria obrigatória de 75 anos para 70 — dependendo do texto final, isso poderia atingir Luiz Fux (72 anos), Cármen Lúcia (71 anos) e Gilmar Mendes (ele completa 70 anos neste ano). Com maioria à direita, os parlamentares poderão ainda colocar em andamento uma I para apurar um suposto “ativismo judicial” nas Cortes superiores.
O esforço de Bolsonaro é tão grande que ele cogita usar o filho Carlos Bolsonaro, hoje vereador pelo PL do Rio, como um curinga na eleição. Como a chapa do PL no seu estado deve ficar com o irmão Flávio e o governador Cláudio Castro, o Zero Dois pode disputar a vaga por Santa Catarina ou até por São Paulo, caso o outro irmão, Eduardo, seja deslocado para a disputa da Presidência no lugar do pai, inelegível. Bolsonaro também “lançou” o ex-ministro da Economia Paulo Guedes para a vaga por Minas Gerais — ele foi formado pela UFMG. O economista, no entanto, deu sinais de que não está disposto a encarar a corrida eleitoral. Bolsonaro também deu a outros ex-ministros, como Gilson Machado e Marcelo Queiroga, a incumbência de disputar um lugar no Congresso. “Bolsonaro não lançará candidato ao governo em Pernambuco. A prioridade é o Senado”, diz Machado.

Lula também sinaliza nesse sentido, ao colocar a articulação pelo Senado acima das disputas aos governos estaduais. Apesar da preocupação, a esquerda patina para arrumar nomes fortes para o embate. Nos dezesseis estados em que as consultas foram feitas até o momento pelo Paraná Pesquisas, apenas seis petistas conseguiram bons números. O melhor cenário é na Bahia, onde Rui Costa e Jaques Wagner aparecem na ponta. Em Pernambuco, Humberto Costa também lidera. No Sul e Sudeste, o único nome forte é o do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), que tem a gestão aprovada por 81% dos capixabas e está na frente da corrida ao Senado com 49% das intenções de voto, segundo pesquisa divulgada na última semana. A eleição para o Senado, item integrantes desse grupo, será diferente de 2022, quando as altas aprovações catapultaram ao Senado governadores como Camilo Santana, Wellington Dias, Flávio Dino e Renan Filho. Agora, Lula não descarta acordos com candidatos de centro “não bolsonaristas”, como Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, que lidera pesquisas para o Senado enquanto sonha com uma candidatura à Presidência. Em São Paulo, a esquerda só teria chance se lançasse nomes como Fernando Haddad ou Geraldo Alckmin, mas nenhum mostra disposição para assumir a tarefa, ainda mais depois do atropelamento de Márcio França (PSB) pelo estreante astronauta Marcos Pontes (PL) na briga pela única vaga em 2022.

Um ponto que pode pesar a favor da direita é a expectativa de que a eleição, assim como em 2022, seja altamente nacionalizada e ideologizada. Na análise do professor Eduardo Lima, mestre em história social pela Unesp, há um distanciamento do eleitorado dos problemas locais na hora de decidir votos para o Senado. “Candidatos sem qualquer ligação com determinada região estão recebendo votos. A lavagem cerebral ideológica é tão grande que as pessoas abrem mão das demandas regionais por questões nacionais”, diz. Esse cenário já ocorreu em 2022, quando, por exemplo, a então ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, teve a candidatura cogitada em seis estados por Bolsonaro, inclusive São Paulo, chegando a dizer que preferia o Amapá pelo amor que tinha aos “indiozinhos”, mas acabou eleita pelo Distrito Federal, com um discurso conservador.
Embora Lula tenha mostrado preocupação com a possibilidade de uma vitória da direita “avacalhar” o STF, isso seria desastroso também para um eventual quarto mandato. Hoje, ele tem muitas dificuldades na Câmara, mas uma vida relativamente mais tranquila no Senado. Entre os partidos com mais vagas em jogo em 2026 estão PSD, MDB (ambos governistas no Senado) e PT, que somam metade das 54 cadeiras em disputa (veja o quadro). Em caso de reeleição, se tiver com o Congresso recheado de opositores, o petista pode ficar de mãos atadas e, no pior cenário, correria risco de não terminar a gestão — pedidos de impeachment de presidente da República, embora precisem ser autorizados pela Câmara, são votados no Senado.

A escolha dos representantes no Legislativo sempre foi tratada com um certo desdém pelo brasileiro. Pesquisa Datafolha feita para a disputa de 2022 mostrava que dois em cada três não se lembravam em quem haviam votado para deputado e senador. Em 1993, quando o país foi às urnas para dizer se preferia um governo presidencialista ou parlamentarista, só 25% fizeram opção por entregar o poder ao Congresso. Aquele momento talvez tenha sido o último, aliás, em que de maneira expressiva se falou durante uma campanha sobre a importância do Legislativo. A figura do chefe do Executivo sempre foi vista como mais relevante, enquanto cargos de vereador, deputado e senador viraram alvo até de chacota eleitoral, como o “voto de protesto”. Mais de três décadas depois do plebiscito, uma eleição promete de novo colocar os holofotes sobre o Congresso.
Publicado em VEJA de 6 de junho de 2025, edição nº 2947