Ogãs galãs: influenciadores da Umbanda e Candomblé derrubam preconceitos c2068
Especialista explica perigos de se estereotipar os responsáveis pelo atabaque em preceitos religiosos 5u423a

As redes sociais se tornaram um terreno fértil para as diferentes expressões religiosas – o aumento de usuários no TikTok, com mais 90 milhões de brasileiros na plataforma, proporcionou a disseminação de diferentes religiões muitas vezes invisibilizadas e alvo de preconceitos. É assim que a Umbanda e o Candomblé criaram um protagonismo próprio dentro da internet. E o principal motor dessa disseminação tem sido os inúmeros vídeos de homens tocando atabaque. A maioria destas postagens é protagonizada por homens charmosos, que atraem elogios como “sarados e “bonitos”; não é à toa que os comentários giram em torno de suas aparências.
Segundo o numerólogo Jonathan Modesto, os conteúdos postados normalmente foram gravados durante as giras, onde os ogãs, responsáveis pelo tambor, mostram com afinco os toques religiosos. “Na maioria das casas, geralmente só homem pode tocar, mas tem casas que mulheres também podem tocar, depende muito da tradição… E sim, de fato, os rapazes que tocam, geralmente são bem bonitos, mas não é uma realidade de todos os terreiros. Tem ogã que chama atenção, assim como qualquer outro médium, pai de santo…”, diz à coluna GENTE.
Jonathan explica que cada vertente tem uma regra relacionada ao atabaque: enquanto que na maioria dos terreiros do Candomblé o cargo é para homens, em grande parte da Umbanda as mulheres também podem tocar. “A Umbanda é uma religião brasileira, é a junção do cristianismo com as tradições africanas, com a origem kardecista e tradições indígenas. O candomblé já é uma religião fundada por povos que foram originados da África, que vieram os escravizados. Não é a mesma coisa, é diferente de ritual”, explica. Nos ritos destas duas vertentes, o tambor é usado de maneira ritualística, já que é por meio deles que os orixás e entidades se conectam. “Você precisa alimentar a energia daquele atabaque, para que ele, literalmente, evoque todas as energias que são ali importantes, tanto que não é qualquer pessoa que pode encostar no atabaque, somente um ogã deve ser devidamente preparado com seus trabalhos em dia, com seus preceitos em dia”, acrescenta.
De fato, os vídeos dos “galãs” tocando o tambor atraem olhares para ambas religiões e despertam a curiosidade para uma busca mais profunda, contudo fomenta a fetichização do ogã. “A linha entre representatividade e fetichização é sutil. Quando o destaque recai só sobre o corpo bonito, o gingado do ‘macho alfa do atabaque’, existe o risco de reduzir o ogã a um símbolo de desejo e não a um agente sagrado, que é o que ele representa. É o sagrado que está em evidência ou o ego? A beleza do ritual ou a aparência que vende?”, questiona Jonathan.